quarta-feira, 1 de julho de 2009

Vamos de comboio até à Questão: T(ambém) G(ostas) de V(erdade)? II

Diz-se, nos corredores por onde passo, que a Verdade não existe porque não pode ser cabalmente provada, mas tão só tangenciada. Estamos tão mais perto dela, quanto a buscarmos incessantemente ao longo de diferentes níveis de análise, da meta-física ou senso-comum, ao Conhecimento científico, e tudo o que está no meio. Em momentos particulares, as observações, testes ou hipóteses formulados podem falsificar uma Teoria, geralmente substituindo-a por outra com maior poder explicativo. Implica o teste contínuo às nossas crenças, o aperfeiçoamento tecnológico e sua prática, a substituição de modelos inteiros e teorias por outros mais funcionais, engenhosos ou eficientes. Esta concepção de Verdade expressa-se em inúmeros domínios, mas não na realidade imediatamente visível.

Esta outra realidade é baseada na outra corrente de Verdade. Aquela que não vê o Conhecimento como a espiral galopante que é, mas que nos condiciona a optar com base em experiências mais básicas, chamemos-lhe assim. Esta corrente é a dominante na esmagadora parte da nossa vida. Quem nos rodeia sempre teve o cuidado de nos ensinar “verdades”, de as distinguir claramente da "mentira". Em todas respostas que foram moldando as nossas “certezas”, existem mais do que a constatação dos “factos” e as estratégias de economia cognitiva que lhe subseguem. É que será sempre necessário o compromisso emocional. É aqui que se baseia a Confiança, que será depositada por nós junto daqueles que nos tentam influenciar. Sempre fomos chamados a posicionarmo-nos, mais ou menos subtilmente, sobre assuntos variadíssimos. No entanto, obriga-se na maior parte das vezes uma escolha clara entre dois pólos opostos, preto ou branco, positiva ou negativa, benéfico ou prejudicial, direito ou esquerdo.

Eu acho que as duas perspectivas são bastante complementares e contêm em si, uma enorme chave civilizacional. Sobretudo porque revelam que existem tantas visões do Mundo quanto pessoas, ao mesmo tempo reconhecendo que um ser humano é tão mais bem sucedido e recompensado quanto o seu padrão de verdade e círculo de confiança se aproxima daqueles que possuem Poder. Sempre terá sido assim, e a ingenuidade em nada ajuda para este caso. O ideal mais-do-que-utópico seria haver uma distribuição uniforme deste Poder; mas se conseguirmos nivelar completamente o terreno de jogo uma vez de x em x tempo, já será uma vitória enorme.

Sem comentários:

Enviar um comentário